O Congado no Porto Dos Mendes – Campo Belo (MG).
JOSÉ CLÁUDIO CORDEIRO, rei perpétuo desde 12 anos do Boticão, hoje tem 71 anos.
ANTÔNIO JACINTO DE PAULA, 72 anos, veio de Campo Belo, é visitante: “Congado é tradição de família”.
MARIA ROSÁRIA CORDEIRO, 71 anos, esposa do José Claudio Cordeiro,
APARECIDA DONIZETE DE PAULA SILVA, tem 65 anos. Boa Esperança. “Congado é Raiz, gosto muito, vem acompanhando desde criança”.
ANA ROSA MODESTO, 43 anos, doméstica, rainha responsável pelo lanche dos congadeiros. Recebeu a coroa da mãe dela.
YASMIM APARECIDA VITOR, 18 anos, balconista, rainha Isabel.
Dona Lazara Fortunata da Silva, capitã de terno do congado do Porto dos Mendes – Catupé. Como organizadora da Festa atendia as pessoas:
“O levantamento do mastro marca o dia e a data da festa. As bandeiras de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia que os reis e rainhas carregam são bentas e sagradas. Minha mãe ensinou que junto com ela a gente fazia de tudo café, almoço, dançava, cantava. O povo dava de tudo para a festa para o almoço e café como arroz, feijão, manteiga. Eles faziam Promessa pra ajudar na festa e davam tudo que precisavam para ajudar no almoço e agradecer a Nossa Senhora do Rosário”.
As origens do congado do Porto dos Mendes remontam a uma história curiosa e fascinante. Tudo começou quando uma mulher chamada Aninha – Ana Fortunata de Jesus, vinda de Perdões, chegou à região trazendo consigo a fé do congado africano. Aninha era uma mulher forte e determinada, que não se deixava abater pelas adversidades da vida.
Ao chegar ao Porto dos Mendes, Aninha logo percebeu que não havia um lugar adequado para que ela e seus companheiros pudessem praticar sua religião. Inicialmente fazia a festa de Nossa Senhora do Rosário na Igreja Central do Povoado chamado Porto dos Mendes no Município de Campo Belo – MG, que hoje fica margeando o Lago de Furnas, mas na época era apenas o Rio Grande. Mas devido algumas situações constrangedoras na época com a sede da Paróquia, ela saiu dalí com seus ternos e construiu mais acima uma outra igreja exclusiva para os congadeiros, onde está até hoje. Aninha com ajuda de seus fortes guerreiros parentes e amigos ergueu um pequeno templo onde todos poderão se reunir para louvar a Deus e celebrar suas crenças. Hoje é uma das principais expressões culturais da região. O congado é uma mistura de religião, música, dança e festa, que celebra a fé e a cultura afro-brasileira.
As origens do congado do Porto dos Mendes são uma história de perseverança e resiliência. Aninha e seus companheiros enfrentaram muitos obstáculos para praticar sua religião, mas nunca desistiram. Hoje, o congado é uma parte importante da cultura local, que celebra a diversidade e a riqueza da herança africana no Brasil.
No entanto, infelizmente Aninha veio a falecer. Sua filha Lázara Fortunata de Jesus assumiu seu lugar, mas enfrentou dificuldades e seu marido José Maria Feliciano acabou assumindo o congado. Mesmo com as dificuldades, ele vem trabalhando arduamente para manter essa importante cultura africana viva no povoado até os dias de hoje. Com o passar do tempo, essa igreja cresceu e até mesmo construíram um galpão para os congadeiros.
O congado é uma manifestação cultural de origem africana que mistura elementos religiosos e folclóricos. É uma celebração que envolve danças, músicas e muita devoção. É um patrimônio imaterial do Brasil e deve ser preservado e valorizado.
A decisão de Aninha em deixar a igreja central e se juntar a seus amigos em outra igreja mostra a importância da liberdade religiosa. Cada pessoa deve ter o direito de escolher a sua crença e praticá-la livremente. Além disso, a construção do galpão para os congadeiros mostra o quanto essa cultura é valorizada no povoado.
As dificuldades enfrentadas por Lázara filha de Aninha e José Perciliano da Silva mostram que nem sempre é fácil manter as tradições culturais vivas. O apoio da comunidade é fundamental para garantir a continuidade dessas manifestações culturais.
José Maria Feliciano é um exemplo de pessoa que se dedica a manter viva a cultura do congado. Seu trabalho é fundamental para garantir que essa tradição continue sendo celebrada no povoado. É importante que as autoridades e a comunidade em geral reconheçam a importância do congado e apoiem iniciativas como as de José Maria Feliciano para garantir a continuidade dessa importante manifestação cultural africana.
Este ano a festa foi muito elogiada por todos, além dos ternos locais de Catopé e Moçambique, outros ternos vieram de diversos locais: Aguanil que surgiu em 1920, Perdões, São Benedito bairro de Campo Belo cidade sede. A missa ficou a cargo do padre Diovany Ronquim Amaral da Paróquia Senhor Bom Jesus.
DEPOIMENTOS:
MARCIANA CIDALINO – Mora em Guapé, tem 65 anos, é dona de casa, viúva. “Meu pai foi o festeiro Gino Cidalino. Gosta da festa por ser a raiz da terra. A madrinha dona Lazara veio de descendentes de Moçambique da África”.
MAICON FERNANDES DE OLIVEIRA, veio de São Paulo e mora em Campo Belo. Declarou: “participo do congado pela tradição, desde a época da escravidão. É bonito preservar. Minha vó era curandeira e rainha em Formiga MG”.
FÁTIMA SILVA, tem 60 anos, aposentada como retireira, mora no Tamanduá município de Aguanil MG, seu avô, pai e filho participam do congado. Ela é rainha do mastro. “Essa tradição nunca pode acabar, meu pai deixou herança”.
CASSANDRA SILVA, 35 anos, faxineira, dona e capitã do terno de congado do São Benedito da Cidade de Campo Belo, veio prestigiar a festa no Porto dos Mendes. “Amo Nossa Senhora do Rosário. Brinco, converso para agradar”.
PEDRO ALMEIDA BENEDITO, capitão de terno.
FERNANDO BASTOS VIANA, 39 anos, mecânico, meirin. “Minha função é ajudar todos os ternos na festa. É minha paixão desde pequeno”.
Neste dia a família e amigos e todos do Congado do Porto dos Mendes prestaram homenagem a esse grande homem que muito significa para todos nós. O atual rei congo é seu sobrinho neto Edison Leandro Ferreira Junior.
A nossa equipe de reportagem procurou no povoado um nome de rua, praça ou estabelecimento público, mas não encontrou nenhum com o nome de Sinhana, Paulo Cordeiro e outros que já faleceram. Passou da hora da nação congadeira solicitar da Câmara de Vereadores que esses reconhecimentos sejam feitos.